domingo, 15 de abril de 2012

O mar de Pessoa e as redes sociais


Fernando Pessoa pretendeu “que o mar unisse, já não separasse” (O infante). Construiu uma bela imagem poética, não uma realidade geopolítica. Os homens permanecem separados por terra, mar e ar – mas, principalmente, pela estupidez.
E esse não é um mal que se resolva com religiões e ideologias, tão semelhantes nas suas certezas, que separam mais do que aproximam. A Natureza nos dá, desde sempre, uma lição que teimamos em não aprender: “Misturem-se!” – é como se assim nos dissesse. Quem teve ou tem um cão vira-lata bem sabe do que estou falando: eles são mais resistentes a doenças e se contentam com um tão pouco de afeto.
As chamadas redes sociais, até pela denominação, têm tudo para aproximar as pessoas. Mas não é o que acontece, ainda.
Observe como se comportam – atenção: não é assim com todo mundo – homens e mulheres que dividem o mesmo espaço, tendo seus próprios computadores e interlocutores na rede. Muitas vezes, conversando entre si, todos juntos – e separados.
E se a mente humana gastou energia, neurônios e sinapses, sem que disso tivéssemos ao menos consciência, para elaborar as personas com as quais nos vestimos diariamente, bastam alguns toques nas teclas para que criemos os personagens com os quais queremos nos fazer conhecer – e ser admirados - pelo mundo (e, no caso, é pelo mundo mesmo).
São personalidades quase sempre idealizadas, que buscam uma aprovação imediata de quem está do outro lado. É possível, até, que o contato virtual propicie encontros satisfatórios, se, mais adiante, elas estiverem dispostas a se despir das máscaras. Não sendo o caso, eis um perfeito caminho para aprofundar a solidão. É uma solução tão rasa quanto perigosa, esta - algo próximo a mergulhar de cabeça numa bacia.
Não há chances de nascer uma relação sincera, verdadeira, seja ela qual for, a partir de fakes, mesmo que estes tragam rostos e assinaturas reais dos seus donos. Nós somos a soma das nossas qualidades e dos nossos defeitos. Sem uma dessas partes deixamos de ser alguém para sermos apenas algo.
É para não desfazer a imagem idealizada que, tantas vezes, aqueles que optam preferencialmente – e conscientemente – pelas “amizades” nas redes, evitam o contato direto, sem maquiagem, o olho no olho, que revela tanto de todos nós.  
“Confiança – o senhor sabe – não se tira das coisas feitas ou perfeitas: ela rodeia é o quente da pessoa”, disse Guimarães Rosa – e por que esquecê-lo?
Creio que a meninada da geração internet – que não pegou o bonde no meio do caminho – sabe lidar melhor com a “realidade virtual” do que os infantilizados adultos que nela se lambuzam tão pobremente. As redes são bons acessórios – mas só.
Tomara que essa garotada ”venha nos restituir a glória” e nos mostrar aquele mar de Pessoa – o que aproxima, já não separa.
Sonhar continua a ser bom e barato, até para quem já perdeu as ilusões.

Nenhum comentário:

Postar um comentário